
Nas vésperas do Natal de 2024, Lor Neves foi à Assembleia Municipal de Loures, com um texto nas mãos trémulas, para contar ali a sua história. “Nós não vivemos nesta situação porque queremos”, disse o homem, que se apresentou como pai de família e serralheiro de profissão, vindo de São Tomé, à procura de uma vida melhor. Lor Neves falava em nome das 99 pessoas, 21 das quais crianças, que fizeram de umas ruínas abandonadas nas Marinhas do Tejo as casas possíveis. Por esses dias, as imagens de famílias com panelas e colchões debaixo de um viaduto estavam em todos os canais. Em março deste ano, a Lusa anunciava o desfecho da luta, na qual se envolveu o movimento Vida Justa: os moradores iam ser integrados no programa Porta de Entrada, através de um protocolo entre a Câmara Municipal de Loures e o IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana), na dependência do Governo.
“O que conseguimos para as Marinhas foi uma vitória do nosso esforço e da nossa insistência. Mas este problema não termina aqui. A crise da habitação não se resolve com medidas avulsas nem com respostas casuísticas”, dizia na altura o presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão. Cerca de quatro meses depois, Kedy Trindade, deputado municipal eleito em Loures pela CDU e membro do Vida Justa, garante que ainda nenhuma família saiu das barracas nas Marinhas do Tejo. Uma semana depois de as demolições no Bairro do Talude terem sido travadas por ordem do tribunal, Kedy Trindade diz que o clima político que levou a câmara a negociar com o IHRU mudou muito. “Foi a altura das legislativas. O próprio PS nacional pressionou a câmara para mudar de posição. Fez com que recuassem e negociassem.” Agora, diz o comunista, “o PS perdeu as eleições e a estratégia política mudou”.