
O ministro francês da Economia e das Finanças, Éric Lombard, admitiu que o plano de redução do défice para 2026 terá de ser menos ambicioso caso o governo de François Bayrou seja derrubado na moção de confiança marcada para a próxima semana. “É inevitável”, afirmou em entrevista, citado pelo Financial Times, sublinhando que qualquer novo executivo teria de negociar com a esquerda para aprovar o orçamento.
O primeiro-ministro, que lidera um governo minoritário, arrisca perder o cargo na segunda-feira, depois de ter colocado o seu mandato em jogo ao submeter uma moção de confiança, que ajudaria a aprovar o pacote fiscal que prevê cortes de 44 mil milhões de euros, combinando aumentos de impostos e redução de despesa. O Partido Socialista, cujo apoio é decisivo, já anunciou que não votará a favor, propondo em alternativa um plano mais modesto, de 22 mil milhões de euros, assente sobretudo num imposto anual de 2% sobre fortunas superiores a 100 milhões de euros.
Lombard considera que a proposta socialista “vai demasiado longe” no abrandamento do esforço orçamental, mas reconhece que, em caso de queda do governo, “qualquer ministro das Finanças teria de trabalhar com eles”, dado o equilíbrio parlamentar. O ministro, que mantém boas relações com os líderes socialistas, vê margem para entendimento: “Há um desacordo no ritmo e no tamanho em 2026… Mas isso deixa espaço para discussão”.
A tensão política surge num contexto de nervosismo nos mercados. As “yields” das obrigações francesas a 10 anos ultrapassaram os 3,6%, aproximando-se dos níveis italianos e do máximo desde 2011. Bayrou alertou para um “momento da verdade” nas contas públicas, avisando para o risco de uma crise de dívida à semelhança da grega. Lombard, porém, rejeita esse cenário: “Não. Vamos tratar dos défices”.
O ministro mantém a previsão de crescimento de 0,6% do PIB este ano e a meta de reduzir o défice de 5,8% em 2024 para 5,4% em 2025. Ainda assim, lembra que “os mercados não mostrarão indulgência” perante políticas irresponsáveis. A 12 de setembro, a Fitch deverá rever o rating de França, atualmente em AA-.
A capacidade de Paris para cumprir as metas orçamentais antes das presidenciais de 2027 dependerá, em grande parte, da postura socialista. Enquanto isso, o Rassemblement National, partido de extrema-direita, endurece a oposição, pedindo eleições antecipadas e a saída de Emmanuel Macron. Lombard, por seu lado, deixa claro que gostaria de continuar no cargo: “É um ministério magnífico onde se podem fazer muitas coisas úteis”.