Uma startup de biotecnologia está a aproveitar o ambiente de microgravidade da Estação Espacial Internacional (em inglês, ISS) para estudar como os tumores reais de pacientes crescem e respondem a medicamentos. Na Terra, este trabalho poderá dar origem a tratamentos mais precisos e personalizados.
Chama-se Encapsulate e está a aprimorar uma tecnologia que permite que amostras de tumores vivos, recolhidas de biópsias de pacientes, sejam cultivadas em pequenos tumores tridimensionais.
Ao contrário das culturas celulares convencionais, estes microtumores utilizados pela empresa de biotecnologia imitam de forma mais precisa a complexidade do cancro humano, especialmente nas condições únicas do espaço.
Num laboratório a mais de 400 km acima da Terra, a startup está a aproveitar o ambiente de microgravidade da ISS para estudar como os tumores reais de pacientes crescem e respondem a medicamentos contra o cancro.
Espaço podem refletir melhor evolução dos tumores no corpo humano
A microgravidade – o estado de quase ausência de gravidade experimentado em órbita – altera a forma como as células interagem e se organizam.
Apesar de, na Terra, a gravidade puxar as células para baixo, muitas vezes limitando a forma como elas se agrupam numa placa de Petri, no espaço, os tumores podem desenvolver-se de maneiras que podem refletir melhor como estes se comportam no corpo humano, segundo os cientistas.
A equipa da Encapsulate está a usar o ambiente estável de microgravidade da ISS como um laboratório, enviando os seus dispositivos tumor-on-a-chip para a órbita em pequenos laboratórios autossustentáveis. A monitorização tem sido feita remotamente.

Esta imagem microscópica captura como a microgravidade permite que as células cancerígenas se auto-organizem em aglomerados, imitando o seu comportamento no corpo humano. Crédito: Encapsulate, via ISS National Laboratory (julho, 2025)
Parte do programa In Space Production Applications da NASA, a Encapsulate está a perceber a viabilidade de um sistema totalmente automatizado para uso no espaço, exigindo apenas uma ação mínima dos astronautas – essencialmente conectar um dispositivo pré-programado.
Em terra, os investigadores monitorizam o crescimento dos microtumores, bem como a resposta aos medicamentos, recolhendo dados que podem mudar a forma como os oncologistas clínicos abordam as opções de tratamento.
A investigação utilizará a tecnologia da Encapsulate para analisar tecido cancerígeno de até 200 pacientes com cancro colorretal e pancreático.
Os primeiros resultados têm sido promissores, de acordo com os investigadores envolvidos.
As experiências revelaram que os tumores podem comportar-se de maneira diferente, estando no espaço ou na Terra, às vezes respondendo aos tratamentos com reações não observadas em laboratórios terrestres.
Essas diferenças sugerem possíveis novos marcadores para prever como os cancros podem espalhar-se ou resistir a certos medicamentos.
Desta forma, observando as reações dos tumores à quimioterapia em órbita, o objetivo é que o estudo destaque quais medicamentos funcionam melhor para cada paciente.