Mergulhadoras Haenyeo são “o mais próximo que se pode chegar de estudar uma sereia”

As mulheres Haenyeo, que mergulham nas profundezas do Mar da China Oriental para colher ouriços-do-mar e mariscos, passam de uma a cinco horas por dia debaixo de água, e são “o mais próximo que se pode chegar de estudar uma sereia”.



O biólogo especializado em mamíferos marinhos da Universidade de St. Andrews, na Escócia, Chris McKnight, em conjunto com os seus colegas, trabalhou com sete mergulhadoras Haenyeo, que vivem na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul.

Ao longo de 1786 mergulhos, as mulheres usaram dispositivos que mediram quanto tempo ficavam debaixo de água e a profundidade a que mergulhavam.

Além disso, para o estudo, os dispositivos monitorizaram, também, os níveis de oxigénio nos cérebros e músculos.

Segundo os investigadores, as mulheres mergulhavam repetidamente durante duas a dez horas por dia e passavam em média 56% do tempo debaixo de água — mais tempo do que muitos mamíferos aquáticos, incluindo castores, ursos polares e lontras marinhas.

Estudar as adaptações fisiológicas das mulheres Haenyeo importa, pois pode esclarecer como os antepassados de mamíferos marinhos fizeram a transição bem-sucedida de um ambiente terrestre para um aquático.

Fonte: Inside One Photographer’s Journey to Capture the Lives of South Korea’s Female Divers, Vogue (2024)

Investigadores estudaram o mais perto de sereias que existe no mundo

As descrições das mergulhadoras na parte da Ásia estudada remontam há 3000 anos.

Apesar de os investigadores as terem analisado em laboratório, a equipa queria monitorizá-las num ambiente real, por forma a contextualizar as suas habilidades relativamente a outros mamíferos aquáticos.

A equipa esperava ver baixos níveis de oxigénio e batimentos cardíacos lentos nas Haenyeo, características da resposta fisiológica de mergulho de outros mamíferos.

Contudo, curiosamente, conforme citado, as mulheres apresentaram frequências cardíacas elevadas e muito pouca redução de oxigénio no cérebro ou nos músculos durante o mergulho.

Esta surpresa pode ser explicada pelos mergulhos frequentes e superficiais, que variam entre 90 e cerca de 450 centímetros de profundidade, com duração média de 11 segundos, e apenas nove segundos entre mergulhos para recuperação na superfície.

Surpreendentemente, também, a idade média das mulheres, estabelecida em 70 anos, “demonstra uma incrível longevidade saudável, o que é realmente empolgante, porque podemos investigar o que permite que isso seja possível nesta população”, segundo Melissa Ilardo, especialista em genética evolutiva da Universidade de Utah, em Salt Lake City, e coautora do estudo.

Segundo Ted Cheeseman, biólogo marinho que lidera a Happywhale, uma base de dados fotográfica online de mamíferos marinhos, e não esteve envolvido no estudo, as práticas de alimentação das mulheres Haenyeo são semelhantes às de “um mamífero marinho orientado para a superfície e que mergulha em águas superficiais, como uma lontra marinha”.

Na sua opinião, as adaptações que permitem a estas mulheres passar mais de metade do seu tempo debaixo de água “demonstram realmente que a cultura motiva a evolução”.

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