Uma investigação recente descobriu uma ligação entre novos casos de apneia do sono e as alterações climáticas, indo ao encontro de outras condições crónicas e doenças que se espera que sejam mais prevalentes à medida que as temperaturas mudam.
Realizada por cientistas da Universidade Flinders, na Austrália, uma investigação recente descobriu uma ligação entre novos casos de apneia do sono e as alterações climáticas.
Espera-se que o aumento das temperaturas aumente, também, a gravidade da apneia obstrutiva do sono (AOS), com os casos a duplicarem na maioria dos países no próximo século.
A apneia do sono é uma perturbação respiratória relacionada com o sono, que consiste na cessação do fluxo respiratório durante o sono por mais de 10 segundos e mais de cinco vezes por hora, devido ao colapso da via aérea superior.
A consequência direta é a alteração do padrão do sono, por uma incapacidade de se atingir as fases profundas, aquelas que permitem o descanso físico e mental.
800.000 anos de vida saudável perdidos
Segundo Bastien Lechat, investigador associado do Instituto de Saúde do Sono de Adelaide, na Austrália, o novo estudo “ajuda-nos a compreender como fatores ambientais, como o clima, podem afetar a saúde, investigando se as temperaturas ambientes influenciam a gravidade da AOS”.
No geral, ficámos surpreendidos com a magnitude da associação entre a temperatura ambiente e a gravidade da AOS.
Disse o investigador, acrescentando que “temperaturas mais altas foram associadas a um aumento de 45% na probabilidade de [alguém] sofrer de AOS numa determinada noite”.
Os cientistas analisaram os dados de 116.620 pessoas em todo o mundo usando um sensor de colchão para avaliar a gravidade da AOS.
Cada indivíduo tinha a sua cama equipada com um sensor, que registou cerca de 500 noites separadas de dados de sono de cada pessoa. Essas informações foram, depois, combinadas com informações correspondentes de temperatura de 24 horas extraídas de modelos climáticos.
Usando a nossa modelação, podemos estimar o quanto o aumento da prevalência da AOS devido ao aumento da temperatura é oneroso para a sociedade em termos de bem-estar e perda económica.
Disse Lechat, acrescentando que “o aumento da prevalência da AOS, em 2023, devido ao aquecimento global, foi associado a uma perda de aproximadamente 800.000 anos de vida saudável nos 29 países estudados”.
Além disso, partilhou que “este número é semelhante ao de outras condições médicas, como transtorno bipolar, doença de Parkinson ou doenças renais crónicas”.
É importante ressalvar que estas descobertas variaram de região para região, com as pessoas nos países europeus a apresentarem taxas mais altas de AOS quando as temperaturas aumentam do que aquelas na Austrália e nos Estados Unidos, talvez devido às diferentes taxas de uso de ar condicionado.
O investigador alertou que, economicamente, as suas descobertas “destacam que, sem uma maior ação política para abrandar o aquecimento global, o encargo [financeiro] da AOS pode duplicar até 2100 devido ao aumento das temperaturas”.
Em números, estima-se que esse encargo associado ao aumento da AOS ronde os 68 mil milhões de dólares em perdas de bem-estar e 30 mil milhões de dólares devido ao impacto negativo na produtividade no local de trabalho.
De acordo com Danny Eckert, professor e investigador sénior do artigo, embora o estudo seja um dos maiores do género, analisou países e indivíduos com alto nível socioeconómico, que provavelmente têm acesso a ambientes de sono mais favoráveis e ar condicionado.
Por isso, também, os investigadores destacam a urgência de intervenções – tanto no sentido de proporcionar um melhor acesso a condições de sono confortáveis para todos, como de aumentar a sensibilização para o diagnóstico da AOS, para que as pessoas possam gerir eficazmente a doença.