Os óculos inteligentes, equipados com câmaras e funcionalidades de IA, estão a chegar em peso ao mercado, mas encontram uma forte resistência por parte da Geração Z, que levanta sérias questões sobre a violação da privacidade. O debate sobre a legitimidade de gravar interações quotidianas sem consentimento explícito está mais aceso do que nunca.
Óculos inteligentes incendiaram as redes sociais
A crescente disseminação de óculos inteligentes em espaços públicos está a gerar um profundo sentimento de inquietação entre os jovens. Dispositivos como os Ray-Ban da Meta, que integram câmaras de gravação, enfrentam uma onda de contestação por parte da Geração Z, que os encara como uma grave ameaça à privacidade individual.
Enquanto as gigantes tecnológicas promovem estes produtos pela sua conveniência e funcionalidades avançadas, aumenta a ansiedade em relação à possibilidade de ser gravado sem autorização e à perda de controlo sobre os dados pessoais.
A controvérsia intensificou-se recentemente, quando uma utilizadora do TikTok partilhou a sua experiência num centro de estética em Manhattan. A cliente ficou alarmada ao perceber que a esteticista que a atendia usava uns Ray-Ban da Meta equipados com uma câmara.
Embora a funcionária tenha garantido que os óculos estavam descarregados, o incidente deixou a cliente desconfortável e abalou a comunidade online. A empresa esclareceu posteriormente que os seus colaboradores são instruídos a manter os dispositivos desligados durante os atendimentos, mas o episódio foi suficiente para despoletar um debate aceso sobre os limites da gravação em espaços públicos e privados.
As redes sociais tornaram-se o principal palco para esta discussão. Um vídeo de Vanessa Orozco, onde expressava o receio de ser filmada sem aviso prévio por funcionários de atendimento ao cliente, ultrapassou os 7 milhões de visualizações.
Embora alguns comentários reconhecessem a utilidade prática dos dispositivos, a maioria manifestava o desejo de que estes desaparecessem por completo.
Uma tecnologia controversa
Estes novos dispositivos ganharam popularidade entre os criadores de conteúdo, que os utilizam para filmar de forma prática em restaurantes ou durante entrevistas de rua. No entanto, a principal oposição vem da Geração Z, uma faixa etária particularmente consciente dos riscos associados à sua pegada digital.
Para mitigar estas preocupações, Maren Thomas, porta-voz da Meta, afirmou ao The Washington Post que os óculos da empresa possuem uma luz que indica quando a gravação está ativa. Adicionalmente, um sensor deteta se alguém tenta obstruir essa luz, e desativá-la constitui uma violação dos termos de utilização.
Contudo, a empresa evitou responder a questões mais amplas sobre os riscos de privacidade.
Apesar destas medidas, muitos jovens consumidores mantêm-se céticos. Opal Nelson, uma residente de Nova Iorque com 22 anos, argumenta que um simples indicador luminoso não é suficiente para impedir o uso indevido, especialmente quando já circulam online tutoriais que ensinam a contornar estas proteções.
Segundo investigadores, as diferenças geracionais moldam a forma como a privacidade digital é encarada. Alice Marwick, diretora da organização sem fins lucrativos Data & Society, observa que, enquanto os millennials partilhavam conteúdos de forma mais livre, a Geração Z tende a ser muito mais cautelosa.
Os jovens de hoje ponderam os riscos de exposição indesejada ou de assédio antes de publicar. Com processos de candidatura a empregos e universidades cada vez mais digitalizados, esta geração está plenamente ciente das consequências a longo prazo da sua presença online. Como resultado, muitos estabelecem limites informais com amigos e familiares sobre o que pode ou não ser partilhado.
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