Ciberataques chineses em grande escala têm recolhido dados da maioria dos americanos

A imprensa internacional está a dar conta de que a maioria dos norte-americanos foi vítima de ciberataques chineses contínuos e em grande escala. As autoridades de segurança atuais e antigas dos Estados Unidos da América (EUA) admitem estar alarmadas com a amplitude da situação, a ocorrer desde, pelo menos, 2019.

Cibersegurança EUA


Na semana passada, a Agência de Segurança Cibernética e Infraestrutura alertou que hackers patrocinados pelo Estado chinês, conhecidos como Salt Typhoon, infiltraram-se em routers de empresas de telecomunicações, por forma a obter acesso prolongado a uma ampla gama de redes, numa iniciativa descrita como “deliberada e sustentada”.

Anteriormente, em outubro de 2024, relatos afirmaram que os telefones do então candidato presidencial republicano Donald Trump e de JD Vance tinham sido alvo de ataques.

Na altura, o Federal Bureau of Investigation (FBI) abriu uma investigação, procurando averiguar a veracidade e a dimensão de um potencial ciberataque.

Agora, está a ser avançado que o alcance dos ciberataques terá sido muito maior do que se pensava.

Não consigo imaginar que algum americano tenha sido poupado, dada a amplitude da iniciativa.

Alertou Cynthia Kaiser, ex-alta funcionária da divisão cibernética do FBI de 2017 até maio deste ano, ao The New York Times.

Ciberataque contra os EUA e, pelo menos, 80 outros países

Segundo o FBI, não terão sido visados apenas os EUA, com a grupo de hackers a ter-se infiltrado em redes de, pelo menos, 80 outros países.

Citando uma rara declaração conjunta de duas dúzias de agências governamentais em todo o mundo, o The Independent informa de que o grupo Salt Typhoon está “a visar redes globalmente, incluindo, mas não se limitando a, telecomunicações, governo, transporte, hotelaria e redes de infraestrutura militar”.

Pelo que se sabe, até agora, os ciberataques ocorrem, desde, pelo menos 2019. Contudo, só foram detetados por investigadores americanos no ano passado.

De acordo com a mesma declaração conjunta, os ciberataques estão a ser associados a empresas sediadas na China que “fornecem produtos e serviços cibernéticos aos serviços de inteligência da China, incluindo várias unidades do Exército Popular de Libertação e do Ministério de Segurança do Estado”.

Esta é uma das violações de espionagem cibernética mais graves que já vimos aqui nos [EUA].

Disse Brett Leatherman, diretor assistente da principal divisão cibernética do FBI.

Ciberataques estão mais ponderados e pacientes

Conforme explicado pelo diretor assistente, ao infiltrar-se nas telecomunicações, os hackers conseguiram aceder a mensagens de texto e chamadas, e até mesmo a pedidos de escutas telefónicas autorizados pelo tribunal.

Os dados roubados “podem fornecer aos serviços de inteligência chineses a capacidade de identificar e rastrear as comunicações e movimentos dos seus alvos em todo o mundo”, conforme alertado na declaração conjunta.

Esta invasão “deve realmente soar um alarme para todos os americanos”, na perspetiva de Brett Leatherman.

Segundo Kaiser, por sua vez, não é claro se os hackers planeavam atacar os dados de americanos comuns ou se essas informações ficaram envolvidas no ataque generalizado contra dezenas de países.

De muitas maneiras, o Salt Typhoon marca um novo capítulo.

Disse Jennifer Ewbank, ex-vice-diretora da Central Intelligence Agency (CIA) para inovação digital, observando que, há uma década, os EUA e os seus aliados estavam preocupados com o facto de a China poder roubar segredos comerciais, informações pessoais e dados governamentais.

Contudo, agora, a superpotência emprega técnicas mais complexas: “Hoje, vemos iniciativas pacientes, apoiadas pelo Estado, profundamente enraizadas na infraestrutura de mais de 80 países, caracterizadas por um alto nível de sofisticação técnica, paciência e persistência”.

China nega ciberataques contra norte-americanos

Um porta-voz da embaixada chinesa em Washington disse que os EUA não apresentaram “provas conclusivas e confiáveis” para mostrar que o Salt Typhoon estava ligado ao Governo chinês.

Além disso, ao The Wall Street Journal, Liu Pengyu esclareceu que “a China opõe-se firmemente e combate todas as formas de ataques e crimes cibernéticos”.