Muito se tem falado sobre os veículos elétricos da China, especialmente em relação ao preço a que as fabricantes conseguem comercializá-los. Para o diretor-executivo da norte-americana Rivian, o problema das marcas tradicionais não deveria ser o preço dos modelos chineses, mas antes o facto de estes serem “de facto” melhores.
As fabricantes chinesas têm investido na globalização do seu negócio. De facto, se antes estavam apenas na China e pouco ou nada se sabia sobre os seus modelos, agora têm procurado chegar a cada vez mais mercados, estendendo o seu catálogo a novos consumidores.
Pelo preço a que as marcas chinesas conseguem vender os seus carros, especialmente modelos eletrificados, a penetração em mercados como o europeu e o americano tem sido bem-sucedida.
Afinal, por cá, os carros elétricos ainda não são para a maioria das carteiras e valores mais baixos são inevitavelmente mais apelativos.
Para o diretor-executivo da Rivian, RJ Scaringe, no entanto, não é no preço que reside a vantagem competitiva dos nomes chineses.
Afinal, o preço não é a única vantagem das fabricantes chinesas
Na perspetiva do executivo, embora o preço seja um fator, os carros chineses são “de facto” melhores e essa deveria ser a preocupação das fabricantes tradicionais.
O que é alarmante, se olhar para toda a indústria, é que a tecnologia é muito melhor. Se eu fosse uma fabricante existente, ficaria menos preocupado com o custo e mais focado em “os carros são de facto melhores”.
Opinou Scaringe, referindo-se à indústria de veículos elétricos da China, durante uma conversa no podcast Plugged-In, onde explorou a ameaça que os veículos elétricos chineses representam para a indústria automóvel dos Estados Unidos.

RJ Scaringe, diretor-executivo da Rivian. Fonte: Bloomberg
Neste momento, o facto de o crescimento das fabricantes chinesas ter sido impulsionado pelos apoios do Governo chinês, ou pelos custos de mão de obra ou pelo aproveitamento da propriedade intelectual ocidental não é o mais relevante. Conforme citado, a questão é, agora, comparar os produtos.
Uma de duas coisas acontecerá: ou vamos implementar taxas que igualem os custos, ou vamos permitir que as fabricantes chinesas construam nos Estados Unidos. Em ambos os casos, o custo será essencialmente igual.
Para Scaringe, as fabricantes chinesas só conseguem manter os custos dos seus veículos elétricos baixos na China, onde o governo pode dar incentivos às empresas para construir fábricas, manter os custos de empréstimos baixos e garantir mão de obra barata.
No entanto, assim que essas empresas chinesas de veículos elétricos começarem a fabricar os seus carros noutros países, a sua vantagem de preço desaparecerá rapidamente. E é aí que a qualidade do produto vai destacar-se.
Não há nenhuma fórmula mágica na China que permita fabricar carros mais facilmente. Há toda uma série de fatores que levam a uma base de custos globalmente mais baixa.
Na opinião do diretor-executivo da Rivian, as fabricantes tradicionais só conseguirão competir melhorando as suas propostas de produto: “Com o tempo, acho que as fabricantes chinesas podem começar a fabricar aqui; e aí elas vão ganhar não em custo, porque o custo será o mesmo ou quase o mesmo, mas em tecnologia”.
A corroborar esta opinião está uma partilha do diretor-executivo da Ford, feita anteriormente, após uma viagem à China.
Em setembro de 2024, Jim Farley viajou para o país, conheceu o mundo automóvel chinês e regressou chocado.