Trump ameaça aplicar tarifas de 100% a todos os filmes produzidos fora dos EUA

O presidente norte-americano voltou a incomodar Hollywood. Donald Trump ameaçou aplicar tarifas de 100% a todos os filmes produzidos no estrangeiro que cheguem aos Estados Unidos da América (EUA), repetindo a intimidação que já tinha sido feita em maio deste ano. A concretizar-se, Hollywood poderá ter de alterar o modelo com que tem trabalhado.

O objetivo de Trump é que a produção cinematográfica se volte a concentrar no território norte-americano. Isto é, Trump está disponível a estender as políticas comerciais protecionistas à indústria cultural. Contudo, esta ação promete aumentar a incerteza para os estúdios, que têm apostado em cooperações internacionais e procurado mais receitas além fronteiras.

O negócio de produção cinematográfica foi roubado dos EUA por outros países, tal como se rouba ‘doces a uma criança’“, escreveu o presidente na rede social Truth Social, aproveitando ainda para lançar críticas ao Governador da Califórnia, que tem estendido os apoios à indústria. “A Califórnia, com o seu fraco e incompetente governador, foi particularmente afetada. Portanto, para resolver este problema antigo e interminável, vou impor uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora dos EUA. Obrigada pela vossa atenção”, acrescentou Trump na mensagem.

Para já, não é percetível como é que estas tarifas vão funcionar e ser aplicadas, e se os filmes estrangeiros transmitidos nos EUA também podem ser alvo destas tarifas. Por exemplo, a saga James Bond pode vir a ser afetada por este novo controlo, uma vez que é originalmente produzida no Reino Unido, embora a Amazon MGM Studios tenha agora uma participação na franquia.

Entre os exemplos estão também “Pobres Criaturas”, protagonizado por Emma Stone, filmado na Hungria e uma coprodução entre o Reino Unido, Irlanda e os EUA, enquanto “Damsel” é um drama americano filmado em vários pontos do globo, nomeadamente Portugal. Também “Agente Stone” e “Velocidade Furiosa X”, ambos de 2023, são produções americanas filmadas em Portugal.

Os últimos dados disponibilizados pela Motion Picture Association, datados de 2023, mostram que a indústria cinematográfica dos EUA registou um excedente comercial de 15,3 mil milhões de dólares, apoiado pelos 22,6 mil milhões de dólares em exportações para os mercados internacionais. 

Aquando da primeira tentativa de impor tarifas a este mercado, um conjunto de associações e sindicatos pediu que Trump avançasse com incentivos fiscais para a produção cinematográfica nacional, com o objetivo de ajudar a que mais projetos de cinema e de televisão regressassem às filmagens no país. O governador da Califórnia pediu que Trump apoiasse o programa de incentivo fiscal de 750 milhões de dólares, que duplicou em julho passado, em vez de ficar a gritar por tarifas.

As produções cinematográficas têm feito parcerias em várias partes do mundo, de forma a reduzir os elevados custos, isto numa altura em que os orçamentos estão a ficar cada vez mais apertados. A razão? O “streaming”, que tem afastado as pessoas do cinema e que levou ao fim das vendas físicas. Os grandes estúdios, como Warner Bros, Paramount ou Disney, também estão a perder fontes de receitas publicitárias nos canais tradicionais, o que tem dificultado a relação com os investidores.

O avanço da inteligência artificial também tem colocado pressão neste setor. De facto, Hollywood já criou a sua primeira atriz com IA, mesmo com críticas ferozes a chegarem da indústria, apelidando a criação como “vazia”. De recordar que esta indústria tem vindo a manifestar-se contra a introdução de novas tecnologias no setor, temendo a perda de milhares de postos de trabalho.