30 Setembro 2025
- Microsoft decide restringir acesso de Israel a tecnologia Azure Cloud e IA
- “A ação da Microsoft envia um forte sinal a todas as empresas, incluindo outros gigantes da tecnologia, de que também elas devem confrontar a sua participação na economia política global que sustenta o genocídio de Israel contra os palestinianos na Faixa de Gaza” – Agnès Callamard
- Outros grandes fornecedores de serviços na nuvem devem também suspender todas as vendas e entregas a Israel de armas e outros equipamentos militares, de segurança e vigilância
A Microsoft decidiu restringir o acesso de uma unidade militar israelita à sua tecnologia, após uma investigação ter concluído que estava a ser utilizada para armazenar dados de vigilância em massa sobre palestinianos. Agnès Callamard, secretária-geral da Amnistia Internacional, referiu sobre este assunto que a AI se congratula com “as notícias sobre a decisão da Microsoft de encerrar o acesso da Unidade 8200 de Israel a determinados serviços de armazenamento Azure Cloud e IA”.
“No entanto”, acrescentou, “é crucial que a Microsoft investigue todos os seus contratos, vendas e transferências de vigilância, inteligência artificial e equipamento relacionado para Israel e garanta que não estão a ser utilizados em conexão com as violações dos direitos humanos cometidas por Israel contra os palestinianos”.
“É crucial que a Microsoft investigue todos os seus contratos, vendas e transferências de vigilância, inteligência artificial e equipamento relacionado para Israel e garanta que não estão a ser utilizados.”
Agnès Callamard
Agnès Callamard afirmou ainda que “a ação da Microsoft envia um forte sinal a todas as empresas, incluindo outros gigantes da tecnologia, de que também elas devem confrontar a sua participação na economia política global que sustenta o genocídio de Israel contra os palestinianos na Faixa de Gaza, o apartheid contra todos os palestinianos cujos direitos Israel controla e a sua ocupação ilegal do território palestiniano”.
Segundo a secretária-geral da AI, “as empresas, incluindo outros grandes fornecedores de serviços na nuvem, devem também suspender todas as vendas e entregas a Israel de armas e outros equipamentos militares, de segurança e vigilância, ou outras máquinas pesadas, peças ou bens e serviços que contribuam ou estejam diretamente ligados aos crimes internacionais de Israel contra os palestinianos”.
“As empresas, incluindo outros grandes fornecedores de serviços na nuvem, devem também suspender todas as vendas e entregas a Israel de armas e outros equipamentos militares, de segurança e vigilância.”
Agnès Callamard
Para Agnès Callamard, “a maré deve virar em direção à responsabilização. À medida que a campanha sem precedentes de assassinatos, destruição, fome e deslocações forçadas contra os palestinianos na Faixa de Gaza continua, deve haver um fim à impunidade de que Israel tem desfrutado. Os Estados devem transformar as suas palavras em ações e cumprir as suas obrigações legais para pôr fim ao genocídio de Israel contra os palestinianos na Faixa de Gaza. Não podem alegar mais que não sabiam”.
A responsável apontou ainda que “um número crescente de organismos e especialistas internacionais em direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional e, mais recentemente, a Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre o Território Palestiniano Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental, concluíram que Israel está a cometer genocídio contra os palestinianos em Gaza”.
“Em janeiro de 2024”, continuou, “o Tribunal Internacional de Justiça já havia alertado para o risco de genocídio contra os palestinianos em Gaza e repetidamente pediu a Israel que cessasse a sua conduta ilegal. Ordens que permaneceram cruelmente ignoradas”.
Agnès Callamard defendeu igualmente ser “imperativo que os Estados exerçam pressão sobre Israel para que cumpra a resolução da Assembleia Geral da ONU (AGNU) de 18 de setembro de 2024, exigindo que ponha fim à sua ocupação ilegal do território palestiniano no prazo de 12 meses a partir dessa data, em resultado do Parecer Consultivo do Tribunal Internacional de Justiça de julho de 2024, que considerou ilegal a presença de Israel no Território Palestiniano Ocupado”.
A AGNU também “exortou os Estados-membros a ‘não prestar ajuda ou assistência a atividades de colonização ilegais, incluindo não fornecer a Israel qualquer assistência a ser usada especificamente em relação aos colonatos’ no território palestiniano ocupado. Estas palavras devem ser rapidamente traduzidas em medidas significativas”, concluiu.
Contexto
A Microsoft terá vedado a utilização de parte da sua tecnologia de armazenamento na nuvem Azure à unidade militar israelita 8200 para a vigilância em massa de palestinianos, após uma investigação conjunta do The Guardian, da publicação israelo-palestiniana +972 Magazine e do meio de comunicação hebraico Local Call. A própria declaração da Microsoft confirmou que a multinacional fornece outros produtos ao Ministério da Defesa de Israel, inclusive para fins de segurança e militares.
A investigação revelou como a Unidade 8200, unidade de inteligência militar de elite de Israel, utilizou o Azure Cloud para operar um sistema de vigilância que recolhia, armazenava, reproduzia e analisava milhões de chamadas telefónicas civis de Gaza e da Cisjordânia, visando a população palestiniana.
A 18 de setembro de 2025, a Amnistia Internacional publicou um briefing a apelar aos Estados, instituições internacionais, municipais e outras instituições públicas e empresas, bem como a outras entidades privadas, para que exerçam maior pressão sobre Israel, para que este país cumpra as suas obrigações internacionais.
Entre elas, contam-se o fim ao genocídio dos palestinianos na Faixa de Gaza, à ocupação militar ilegal do Território Palestiniano Ocupado e ao sistema de apartheid de Israel contra todos os palestinianos cujos direitos controla. O relatório cita 15 empresas que a Amnistia Internacional identificou como contribuintes para as ações ilegais de Israel.