23 Setembro 2025
- Resolução da ONU permitiria por fim a sofrimento de dois milhões de palestinianos
- EUA abusam do seu direito de veto para dar luz verde ao genocídio de Israel
- “A história não perdoará os EUA por se colocarem sozinhos contra a comunidade internacional” — Agnès Callamard
A secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, reagiu ao veto dos EUA ao projeto de resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que exigiria um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza, afirmando que, “pela sexta vez, os Estados Unidos vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que visava pôr fim ao sofrimento insuportável de mais de 2 milhões de palestinianos em Gaza, que lutam para sobreviver ao genocídio israelita que se tem desenrolado cruelmente diante dos olhos do mundo”.
O projeto de resolução exigia também o levantamento de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária e a garantia da sua distribuição segura, assim como a libertação imediata e incondicional de todos os reféns mantidos pelo Hamas e outros grupos armados palestinianos.
Agnès Callamard defendeu ainda, relativamente a este veto, que “é moralmente repreensível que, em vez de usar a sua influência para pôr fim à interminável série de horrores, os EUA tenham – mais uma vez – abusado do seu direito de veto para, efetivamente, dar luz verde ao genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza. O resultado da votação, 14 a favor e apenas um contra, mostra que os EUA estão sozinhos nesta questão. Cabe agora à Assembleia Geral tomar medidas decisivas”.
“O resultado da votação, 14 a favor e apenas um contra, mostra que os EUA estão sozinhos nesta questão. Cabe agora à Assembleia Geral tomar medidas decisivas”
Agnès Callamard
Para Agnès Callamard, “as implicações deste veto são especialmente devastadoras para os palestinianos na cidade de Gaza, onde Israel desencadeou uma campanha de aniquilação sem precedentes que está a empurrar brutalmente centenas de milhares de residentes para fora da cidade, para áreas inseguras e inadequadas no sul da Faixa de Gaza”.
A responsável defendeu ainda que “o ataque implacável de Israel está a acelerar o apagamento da cidade antiga, do seu património e da identidade palestiniana. O facto de este veto ter ocorrido apenas dois dias após a Comissão Independente de Inquérito (COI) da ONU ter publicado um relatório, concluindo que as autoridades e forças israelitas estão a cometer genocídio contra os palestinianos em Gaza torna-o ainda mais repreensível”.
A secretária-geral da Amnistia Internacional referiu também que, “desde continuar a fornecer a Israel o apoio militar maciço que permitiu a continuação do genocídio, até ao apoio político e diplomático incondicional, incluindo através deste último veto, o governo dos EUA tem demonstrado um desprezo mortal pela sobrevivência dos palestinianos em Gaza. Isto também põe em risco a vida dos reféns israelitas”.
“O governo dos EUA tem demonstrado um desprezo mortal pela sobrevivência dos palestinianos em Gaza. Isto também põe em risco a vida dos reféns israelitas”
Agnès Callamard
Agnès Callamard defendeu ainda que “a história não perdoará os EUA por se colocarem sozinhos contra a comunidade internacional, encorajando Israel no seu genocídio contínuo contra os palestinianos em Gaza e corroendo ainda mais um frágil sistema jurídico global destinado a proteger os direitos humanos, mas que viu as suas normas e a sua própria legitimidade esmagadas pela impunidade generalizada e pelo desprezo pelo direito internacional”.
“Ao continuar a apoiar e a armar Israel enquanto leva a cabo a sua campanha implacável de aniquilação em Gaza, o risco de cumplicidade dos EUA em crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio está a aumentar”, acrescentou.
“Todos os Estados devem exercer muito mais pressão sobre Israel, incluindo através da proibição, com efeito imediato, do fornecimento, venda ou transferência direta e indireta para Israel de todas as armas e equipamentos de vigilância, bem como de todas as relações comerciais ou de investimento que contribuam para, ou estejam diretamente ligadas aos crimes internacionais de Israel”, concluiu Agnès Callamard.