
Arde, baby, arde! Do fogo vem uma inconfessável tensão dionisíaca. Quase se apalpa a devassidão relampejante que atravessa o coração do pirómano. Retornados do império, viviam os meus pais em Pinhel, era de noite e houve um incêndio perto do Coa. Fui com a Antónia ver a frente de fogo: era como se a boca do deus da noite – ou será um demónio? – se abrisse na insuperável beleza e fúria de labaredas a correr pela floresta de breu. As chamas iluminavam a beleza juvenil da Antónia: talvez nunca eu a tenha visto tão bela. Como se fosse uma Scarlett O’Hara. E já lá vou.