Um novo estudo mostra que os alimentos ultraprocessados podem prejudicar a saúde dos homens de três formas, particularmente. Os investigadores procuravam perceber se a natureza processada dos alimentos impacta a saúde de uma pessoa, mesmo que as calorias e os nutrientes da dieta sejam mantidos iguais.
A alimentação é um mundo verdadeiramente complexo e nem sempre é claro perceber o que devemos ou não comer, até pela cada vez maior disponibilidade de alimentos.
O que são alimentos ultraprocessados?
À disposição nos supermercados e lojas especializadas, temos, entre outros, os chamados alimentos não processados ou minimamente processados, os processados e os ultraprocessados.
- Os primeiros, chamados, também, de in natura, são aqueles que chegam até nós exatamente como foram obtidos da natureza, sem passarem por qualquer tipo de alteração industrial. Ricos em nutrientes e fibras, são apenas limpos, fracionados, refrigerados, congelados ou embalados, sem adição de sal, açúcar, óleos ou conservantes
- Os segundos passam apenas por algum tipo de alteração industrial simples, como cozimento, fermentação, congelamento, secagem, salga ou adição de conservantes naturais. Mantendo a maioria das suas propriedades nutricionais originais, os alimentos processados recebem a adição de poucos ingredientes, apenas para aumentar a sua durabilidade ou potencializar o sabor.
- Os terceiros são formulações industriais feitas maioritariamente de ingredientes artificiais ou extraídos de alimentos, com pouco ou nenhum alimento inteiro na composição. Geralmente pobres em fibras e nutrientes, mas ricos em gordura, açúcar e sal, os alimentos ultraprocessados costumam ter diversos aditivos químicos como corantes, aromatizantes ou emulsionantes.
Apesar de serem mais pobres nutricionalmente, a introdução destes últimos alimentos nas nossas dietas resultou em custos mais baixos e maiores prazos de validade para os alimentos, além de melhoria de sabor e aromas.
Contudo, a evidência científica tem apontado para o impacto negativo do seu consumo, conforme se reforça, agora, com este estudo recente.
Novo estudo mostra o impacto dos ultraprocessados na saúde dos homens
Ficámos chocados com a quantidade de funções corporais que foram afetadas pelos alimentos ultraprocessados, mesmo em homens jovens saudáveis.
Disse Romain Barrès, biólogo molecular da Universidade de Copenhaga, explicando que “as implicações a longo prazo são alarmantes e destacam a necessidade de rever as diretrizes nutricionais para melhor proteger contra doenças crónicas”.
Para o estudo, os investigadores recrutaram 43 homens cisgénero com idades entre 20 e 35 anos, que experimentaram duas dietas diferentes, com um intervalo de três meses entre elas.
As duas dietas eram equivalentes em termos de calorias e ingestão de nutrientes, mas uma era rica (77% das calorias) em alimentos ultraprocessados e a outra era composta principalmente (66% das calorias) por alimentos não processados.

Os investigadores compararam dietas não processadas com dietas ultraprocessadas. Fonte: Preston et al., Cell Metab., 2025
Enquanto seguiam a dieta dos alimentos ultraprocessados, os homens ganharam em média cerca de um quilo de massa gorda extra, enquanto os níveis de um químico ftalato relacionado com plásticos chamado cxMINP aumentaram, também, de forma preocupante. Esta substância é conhecida por interferir com as hormonas.
O terceiro efeito negativo da dieta com alimentos ultraprocessados observado pelos investigadores foi uma queda nos níveis de testosterona e na hormona folículo-estimulante, que é crucial para a produção de esperma.
Além de terem influenciado a saúde cardiometabólica e reprodutiva, o consumo de ultraprocessados causou, também, uma tendência para acumular contaminantes no sangue e no sémen.
Embora o estudo analise uma amostra relativamente pequena durante um curto período de tempo — e envolva apenas homens —, é mais uma prova de que é necessário repensar a quantidade de alimentos ultraprocessados que ingerimos.
Segundo Jessica Preston, cientista nutricionista da mesma universidade, os resultados provam que “os alimentos ultraprocessados prejudicam a nossa saúde reprodutiva e metabólica, mesmo que não sejam consumidos em excesso”.
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