Com a idade, principalmente, a visão vai-se deteriorando e os óculos passam a ser um acessório obrigatório do dia a dia, tanto para ler o menu de um restaurante como para perceber o que informa um sinal de trânsito. Apesar de serem, há largos anos, a solução preferida, os óculos bifocais não são a mais confortável. E se pudesse alternar entre a visão ao perto e ao longe com um simples toque na armação?
Os anos passam e ver ao perto e ao longe pode deixar de ser natural, exigindo ajuda. De facto, as pessoas que desenvolvem presbiopia conhecem o desafio que ler um livro, por exemplo, passa a representar.
A resolver este problema estão, há largos anos, os óculos bifocais, que adotam um conceito de lente dividida praticamente inalterado desde que foi descrito por Benjamin Franklin, em 1784, numa famosa carta.
Geralmente, os óculos bifocais tradicionais exigem que o utilizador mova a cabeça ou os olhos para encontrar a zona correta. Este ajuste constante pode causar tensão no pescoço e tornar as tarefas que exigem mudanças rápidas de foco mais difíceis.
Além disso, as pessoas que trabalham com peças pequenas na parte superior do seu campo de visão enfrentam outro obstáculo. O segmento de correção da visão ao perto fica na parte inferior da lente, pelo que esta não ocorre onde é necessária.
Entretanto, recorrendo à tecnologia de que dispomos hoje em dia, a professora Yi Hsin Lin, da Universidade Nacional Yang Ming Chiao Tung (NYCU), em Taiwan, desenvolveu uma alternativa que parece, pelo menos, muito mais prática.
Trata-se de uma solução ajustável, que permite alternar entre a correção da visão ao perto e ao longe, por via de um simples toque na armação.
Este conceito existe desde a década de 1970, mas ninguém conseguiu torná-lo prático para óculos de uso diário.
Explicou Lin.
Ajustar a correção da visão com um toque
No centro do protótipo da equipa de Lin está o cristal líquido (em inglês, LC), que tem moléculas que podem ser reorientadas por minúsculos campos elétricos, o que altera a forma como a lente refrata a luz.
A equipa moldou essa reorientação num perfil de índice gradiente, frequentemente abreviado para GRIN. Em vez de uma peça de vidro curva, uma célula plana cria uma mudança suave no poder de refração em toda a lente.
A par disso, a equipa projetou a ótica para ser independente da polarização, para que a lente mantenha o seu comportamento para ondas de luz de diferentes orientações. Esta correção é importante para uma visão nítida em luz normal e mista.
Conforme escrito por Lin, “apresentamos aqui óculos comutáveis eletricamente baseados em lentes LC GRIN”, um dispositivo que gera potência ótica sem peças móveis e com uso modesto de energia.
A área de visualização ativa atual tem cerca de 1 cm de diâmetro. Isto é menor do que uma lente convencional completa, o que indica que se trata de um hardware numa fase inicial, apoiado por uma física cuidadosa.
Os autores mapearam como a lente responde à mudança de tensão e orientação, e determinaram como limitar as oscilações de cor na zona de visualização. Estas são etapas básicas de um processo que deverá culminar no fabrico de um produto para as massas.
A armação esconde elétrodos finos e uma pequena bateria. Um toque aciona o padrão de campo que empurra as moléculas para uma nova orientação e altera a potência ótica.
Esta solução, disponibilizada para as massas, poderá ser viável para aqueles que alternam entre tarefas que exigem uma correção constante da visão ao perto e ao longe.
Em particular, para as pessoas que não gostam das distorções nas bordas das lentes bifocais. Um campo limpo e comutável evita o efeito de corredor de que alguns utilizadores não gostam.