Gaza: escalada da ofensiva israelita terá consequências irreversíveis

8 Setembro 2025

  • Amnistia Internacional apela a fim da escalada de ataques israelitas em Gaza
  • Ataque de Israel vai forçar deslocação de centenas de milhares de palestinianos
  • Última ordem de deslocação para Gaza afeta mais de 200 mil pessoas
  • Reunião da ONU desta semana deve resultar em medidas concretas contra genocídio

Israel deve cessar imediatamente a escalada de ataques massivos contra a cidade de Gaza e os planos para deslocar centenas de milhares de residentes, agravando o sofrimento já insuportável da população civil pela fome e pelo genocídio em curso, afirmou a Amnistia Internacional.

Nos últimos dias, Israel intensificou os ataques militares à cidade de Gaza, matando dezenas de civis e destruindo casas e outros alvos civis, nomeadamente nos bairros de Sheikh Radwan, Zeitoun e Shejaiyah. Israel também mobilizou um grande número de reservistas e emitiu, uma vez mais, ordens de deslocação em massa dos residentes da cidade.

Zonas inteiras da cidade de Gaza foram declaradas áreas proibidas.

“Israel continua o seu ataque cruel e mortal à cidade de Gaza, com total desrespeito pelos civis palestinianos, por entre uma situação de fome da sua responsabilidade, desafiando os repetidos apelos de organizações humanitárias e de direitos humanos, funcionários da ONU e líderes mundiais para que cesse a sua ofensiva. Ao fazer isso, Israel revela a sua determinação assustadora em continuar o genocídio contra os palestinianos em Gaza”, afirmou Erika Guevara Rosas, diretora sénior de Investigação, Advocacia, Política e Campanhas da Amnistia Internacional.

“O ataque de Israel à cidade de Gaza consolidará sua ocupação ilegal e, mais uma vez, deslocará à força centenas de milhares de civis palestinianos, causando mais mortes e destruição. Deslocar à força palestinianos dentro ou fora da Faixa de Gaza violaria o direito internacional humanitário e constituiria o crime de guerra de transferência ou deportação ilegal”.

“Deslocar à força palestinianos dentro ou fora da Faixa de Gaza violaria o direito internacional humanitário e constituiria o crime de guerra de transferência ou deportação ilegal”

Erika Guevara Rosas

“A operação também poderia colocar em risco a vida dos reféns israelitas e comprometer a possibilidade do seu regresso seguro às suas famílias. Na passada sexta-feira, 5 de setembro, o Hamas divulgou um vídeo com dois israelitas mantidos reféns: Guy Gilboa-Dalal e Alon Ohel. No vídeo, Gilboa-Dalal diz que está na cidade de Gaza e que, pelo menos, outros oito reféns estão na área”, apontou. A Amnistia Internacional reitera o seu apelo para a libertação imediata de todos os reféns civis e para que o Hamas pare de os submeter a tratamentos degradantes e humilhantes.

De acordo com o Comité Internacional da Cruz Vermelha, é impossível, nas condições atuais, realizar uma evacuação em massa da cidade de Gaza em conformidade com o direito internacional humanitário. A maioria dos palestinianos deslocados já foi deslocada à força várias vezes e vive em campos improvisados, superlotados e insalubres, privados das suas necessidades mais básicas. Muitos não têm para onde ir ou são incapazes de sair porque estão desnutridos, doentes, feridos ou têm deficiências.

A 27 de agosto, mais de 86% da Faixa de Gaza estava dentro da zona militarizada israelita ou sob ordens de deslocamento. A última ordem de deslocação para a cidade de Gaza, a 26 de agosto, afeta mais de 200.000 pessoas.

De acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla inglesa), a 27 de agosto, mais de 86% da Faixa de Gaza estava dentro da zona militarizada israelita ou sob ordens de deslocamento. A última ordem de deslocação para a cidade de Gaza, a 26 de agosto, afeta mais de 200.000 pessoas. As forças armadas israelitas instruíram os residentes a irem para a área de al-Mawasi, no sul de Gaza, mas a zona tem sido atacada por Israel e a ONU alertou que está mal equipada para acolher pessoas, devido à falta de água, tendas superlotadas e falta de acesso a cuidados médicos.

“Repetidamente, o mundo tem assistido à margem, enquanto Israel continua a desafiar os princípios mais básicos da humanidade. Os estados não devem continuar parados, enquanto Israel prossegue o seu plano de aniquilar e assumir o controlo total da cidade de Gaza, causando mais derramamento de sangue, destruição, deslocações e sofrimento aos civis palestinianos”, disse Erika Guevara Rosas.

“Os estados não devem continuar parados, enquanto Israel prossegue o seu plano de aniquilar e assumir o controlo total da cidade de Gaza”

Erika Guevara Rosas

“Os estados-membros da ONU reunidos na Assembleia Geral, em Nova Iorque, na próxima [esta] semana devem tomar medidas concretas para deter o genocídio de Israel e deixar claro que as suas políticas desumanas não serão mais toleradas. Israel deve interromper imediatamente a sua operação na cidade de Gaza, suspender o seu bloqueio ilegal e permitir o fluxo irrestrito de ajuda para dentro e por toda a Faixa de Gaza”, acrescentou a responsável da Amnistia Internacional.

“A publicação de um plano pós-guerra, aparentemente patrocinado pelos Estados Unidos da América, que deslocaria à força toda a população de Gaza, ressalta a necessidade urgente de os estados cumprirem as suas obrigações legais para evitar novas violações graves das Convenções de Genebra”, concluiu Erika Guevara Rosas.