O mercado das bebidas sem álcool está a evoluir a um ritmo alucinante, com uma nova e ambiciosa meta no horizonte: criar uma cerveja “sem” que consiga replicar a sensação de euforia e desinibição do álcool, mas sem os seus inconvenientes. Um laboratório britânico está na frente desta corrida.
A cerveja ‘sem’ como um negócio em expansão
Numa altura em que a indústria do álcool enfrenta desafios como a queda na procura em mercados importantes e uma mudança de paradigma no consumo por parte das gerações mais novas, a procura por alternativas sem álcool atingiu o seu auge.
Contudo, há quem queira ir mais longe e alcançar o que parece impossível: produtos sem álcool, mas com a capacidade de simular os seus efeitos psicoativos.
O principal nome nesta corrida é David Nutt, um neurocientista com décadas de experiência a investigar os efeitos de substâncias no cérebro, incluindo a dependência e a ansiedade.
Nutt, reconhecendo os benefícios sociais associados ao consumo de álcool, ambiciona oferecer uma forma mais segura e saudável de desfrutar desses momentos, eliminando riscos como a cirrose, a dependência ou comportamentos agressivos.
Com este objetivo em mente, cofundou a GABA Labs, uma empresa com uma missão clara:
Oferecer aos consumidores sociais o que procuram no álcool, mas sem o álcool.
A equipa está a trabalhar no desenvolvimento de uma molécula patenteada, a Alcarelle. Este composto, inodoro, insípido e incolor, foi concebido como um “ingrediente que promove a socialização e o relaxamento”, amplificando os efeitos do ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor que sinaliza ao cérebro para relaxar.
Um dos grandes objetivos é que esta molécula não crie habituação e evite as temidas ressacas.
Primeiros produtos a serem produzidos
A GABA Labs prevê que a Alcarelle e os produtos derivados possam estar disponíveis no mercado norte-americano a partir de 2028, embora Nutt, em declarações à Bloomberg, tenha expressado esperança de que o lançamento comercial ocorra já no final de 2027. O laboratório tem vindo a testar e a refinar dezenas de moléculas candidatas, tendo atualmente três “finalistas” para prosseguir com a investigação.
No entanto, já é possível ter um vislumbre desta tecnologia. Em 2021, a empresa lançou uma bebida em pequenas quantidades no Reino Unido, chamada Sentia, que mais tarde chegou aos Estados Unidos. Embora ainda não contenha a molécula Alcarelle, é produzida com ingredientes naturais que procuram antecipar os efeitos desejados.
Mais recentemente, foi anunciada a Gabyr, uma cerveja “sem” que promete gerar uma desinibição semelhante à da sua congénere com álcool. A equipa está também a desenvolver um whisky e um vinho com as mesmas propriedades.
Contudo, não deixa de ter implicações
A importância desta inovação é multifacetada. Por um lado, promete o melhor de dois mundos: a descontração e a euforia do álcool, sem os seus efeitos negativos. Segundo Nutt, os efeitos manifestam-se cerca de 20 minutos após o consumo.
Por outro lado, levanta questões pertinentes a nível regulatório e de segurança. Como seria fiscalizado o seu consumo? Poderia influenciar a condução? Que potenciais efeitos secundários existem?
Alguns académicos, como Kenneth Sher da Universidade do Missouri e Jim Cook, expressam ceticismo, alertando para possíveis efeitos secundários como sonolência ou perda de memória. Estas são questões que necessitarão de respostas claras antes de uma eventual massificação.
A proposta de Nutt surge num contexto de mercado favorável. A Geração Z demonstra um interesse decrescente pelo álcool, e tendências como o “Janeiro Seco” ganham cada vez mais adeptos. O mercado de cervejas e vinhos sem álcool está em franca expansão, com o portal Statista a prever que as vendas globais de cerveja sem álcool ultrapassem os 50 mil milhões de dólares em 2028.
Se a GABA Labs for bem-sucedida, poderá tornar-se um ator de peso neste negócio em crescimento.
Leia também: