A decisão de dar ou não um smartphone a um filho deveria depender de cada família. Contudo, a verdade é que o contexto social importa e, por vezes, o processo pode não ser tão simples quanto os pais esperam. Assim sendo, especialistas deixaram cinco dicas para evitar dar um smartphone ao seu filho.
Alguns pais dão smartphones aos seus filhos por razões de segurança, incluindo a possibilidade de os contactar e localizar quando estão fora de casa, por exemplo. Contudo, esse acesso precoce pode causar danos à saúde mental, sobre os quais se tem debatido cada vez mais.
A analogia que frequentemente me vem à mente com o telemóvel e as tecnologias atuais é o automóvel. Quando o automóvel foi inventado, as pessoas eram projetadas para fora dos carros e o número de mortes era dramático. Não havia cintos de segurança, não havia airbags.
A construção do chassis tornava as pessoas vulneráveis e, ao reconhecer as vulnerabilidades que acompanhavam essa tremenda inovação tecnológica, instituímos regulamentos e melhores modelos, bem como políticas que protegiam a saúde e o bem-estar dos condutores e passageiros. Estamos nos primeiros dias dos telemóveis e da tecnologia em geral, onde precisamos de fazer o mesmo.
Comparou Kathleen Pike, diretora-executiva da One Mind at Work e professora de psicologia do Columbia University Irving Medical Center, em entrevista à CNBC make it.
Ao mesmo órgão de comunicação social, Kathleen Pike e Zach Rausch, cientista investigador da Stern School of Business da Universidade de Nova Iorque e investigador principal do best-seller do The New York Times, “The Anxious Generation”, de Jonathon Haidt, partilharam cinco dicas sobre como evitar dar um smartphone ao seu filho.
Como evitar dar um smartphone a uma criança/ adolescente?
#1 – Junte-se a outros pais
Uma vez que ser o único encarregado de educação que se recusa a dar um smartphone ao filho pode ser solitário, não apenas para a criança/ adolescente, importa encontrar outros tutores que pensem da mesma forma e pretendam adotar a mesma abordagem.
Antes de agir sozinho, encontre alguns amigos do seu filho, de três a cinco. Converse com os pais deles e, se todos decidirem adiar a compra de smartphones até ao ensino secundário, será muito mais fácil, porque poderá dizer: “Bem, o João não vai, também, receber um smartphone até aos 14 anos”.
Segundo Rausch, esta abordagem poderá facilitar a conversa e a compreensão pela criança/ adolescente.
De facto, “se o seu filho for o único sem um smartphone, isso pode representar um conjunto adicional de fatores de stress para ele”, disse Pike.
#2 – Assegure estímulos sociais
Segundo os especialistas, as crianças que não têm um smartphone precisarão de substituir essa atividade por outras formas de entretenimento.
Conforme alertado por Rausch, não basta remover a tecnologia, os pais precisam de promover oportunidades para estimular a criatividade.
Uma ideia dada pelos especialistas passa por formar um grupo de pais que organizam encontros semanais nas casas uns dos outros, onde as crianças brincam ao ar livre, por exemplo.
Para os adolescentes, isso pode envolver organizar encontros sociais com amigos, como sair para almoçar.
Indo além da atividade escolhida, “o objetivo é ter independência e estar com outras crianças pessoalmente”, explorando o mundo e as situações sociais, para que “desenvolvam a autonomia e a competência de que precisam para prosperar”.
#3 – Fale desde cedo com o seu filho sobre o tema
Segundo Pike e Rausch, a conversa sobre os smartphones deve ser tida desde a infância, para que a criança/ adolescente não seja surpreendido mais tarde.
Essa conversa deve começar cedo, em vez de repentinamente.
Disse Rausch, explicando que será mais difícil separar uma criança de um smartphone se ela não compreender as motivações dos pais.
Por sua vez, Pike explicou que o hábito de dar um smartphone a uma criança entediada como entretenimento pode tornar-se um grande problema no futuro.
Quando isso acontece e se torna um padrão, os pais impedem a criança de desenvolver as habilidade de lidar com o tédio.
Eles não estão a aprender a sentar-se quietos e a imaginar. Não estão a aprender a viver com a sua curiosidade, nem a criar um espaço onde possam sentir curiosidade por algo e sair para explorar. Não estão a levantar-se e a movimentar-se.
#4 – Ensine sobre o uso responsável do smartphone
Uma vez que as crianças aprendem com os pais, é importante assegurar “um bom comportamento com os nossos próprios telemóveis”, por forma a mostrar-lhes como se pode utilizar o smartphone de forma responsável, segundo Rausch.
Concentre-se no que pode controlar e parte disso é tentar dar o exemplo como pai ou mãe que usa bem a tecnologia.
#5 – Não vacile nos limites
A criança/ adolescente vai provavelmente refutar a decisão de não poder ter um smartphone. No entanto, é importante não ceder às suas exigências, segundo Rausch, que estabeleceu um paralelismo com o álcool ou cigarros.
Precisamos que os pais tenham uma liderança forte e se sintam confiantes para dizer não, e pode ser muito difícil estabelecer esses limites.
Para Rausch, os smartphones são como qualquer outro produto que apresenta um alto risco de prejudicá-los: “O conflito provavelmente vai acontecer, mas, como pais, temos a responsabilidade e a coragem de simplesmente dizer não e adiar, além de explicar alguns dos malefícios”.